sexta-feira, 15 de julho de 2011

PROFECIAS AUTO-REALIZANTES


Pierre Bourdieu (1930/2002)


Pierre Bourdieu (no Dossier de “Le Monde Diplomatique”:”L’Amérique dans les têtes”) falava de um imperialismo cultural americano, com uma língua mundial e um conjunto de tópicos particulares à sociedade e às universidades americanas que, sob uma aparência “deshistorizada”, se impunham a todo o planeta.

Ora, esse imperialismo simbólico atingiu nos últimos tempos uma fase paroxística, com a entrada em cena das agências de rating. Porque, ao contrário da estratégia subliminar que acabou, pouco a pouco, por pôr todo o planeta a falar a mesma língua e a utilizar os conceitos da escola americana do pensamento económico, esta crise equivale a um arrancar problemático das máscaras. São boas notícias para os povos e para a reflexão sobre o futuro “global”.

O discurso dominante em matéria económica e de gestão que, “fundado na crença, mima a ciência” (…) “é dotado do poder de fazer acontecer as realidades que pretende descrever, segundo o princípio da profecia auto-realizante, está presente no espírito das decisões políticas e económicas, e serve de construção das políticas  públicas e privadas, ao mesmo tempo que de instrumento de avaliação destas políticas.” (ibidem).

A “hubrys” das pítias americanas veio revelar este facto surpreendente: o sistema deixou de controlar a sua imagem de duplicidade, em que a moral se mistura com os negócios, sempre justificados por uma sacrossanta e ideológica eficácia. É isso que está em causa com o levantar da máscara. E o sistema já não serão tão eficaz se deixar de mentir e se se apresentar com o seu próprio rosto.

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