Franz Liszt (1811/1886) |
“Ainda
não experimentei o piano (passavelmente gasto, dizem-me) da Academia, não
tendo, habitualmente, nenhuma pressa em mostrar o meu talento tal como ele é, o
que se torna muitas vezes um fardo muito desagradável para mim, dada a
exigência tácita ou confessada que muitas pessoas se imaginam no direito de me impor
que as divirta a propósito de tudo e de nada. Ora, na minha idade e com a minha
disposição de espírito, não é sempre uma coisa agradável, e, aliás, não vejo
que vantagem pode haver em fazer música para uma “bonne fille” demasiado
complacente. O quer que se diga, a arte é uma aristocracia que não é fácil
frequentar.”
“Correspondance”
(Franz Liszt, citado por Frédéric Martinez)
É o Liszt sempre com
preocupações místicas, para quem a música já não chega e que em Fevereiro de
1860 comunica ao gão-duque Charles-Alexandre a sua resolução de se “divorciar
do público”. Está cansado de dar vida a uma imagem desabitada.
Uma crise como essa
deve atingir, numa certa altura, todos os artistas que representam para um
público. Mas no seu caso, não é a velhice que o impede de continuar a fazer o
papel do galã, ou como, em “Singing in
the rain”, o sonoro que revela uma voz impossível. Liszt está no auge da
sua arte, mas sente-se usado pelo direito que os outros se arrogam de esperar
dele novas proezas. Sente a necessidade de se separar do “equilibrista” e de levar
a decepção aos outros. Já não tem nada a provar e a “aristocracia da arte”
exige-lhe demasiado esforço.
A posteridade é que
não está pelos ajustes e considera exclusivamente o artista. Tudo o resto, que
ele pensava ser maior do que isso, parece aos nossos olhos uma veleidade, senão
um outro tipo de pose.
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