terça-feira, 26 de julho de 2011

A ARISTOCRACIA DA ARTE

Franz Liszt (1811/1886)


“Ainda não experimentei o piano (passavelmente gasto, dizem-me) da Academia, não tendo, habitualmente, nenhuma pressa em mostrar o meu talento tal como ele é, o que se torna muitas vezes um fardo muito desagradável para mim, dada a exigência tácita ou confessada que muitas pessoas se imaginam no direito de me impor que as divirta a propósito de tudo e de nada. Ora, na minha idade e com a minha disposição de espírito, não é sempre uma coisa agradável, e, aliás, não vejo que vantagem pode haver em fazer música para uma “bonne fille” demasiado complacente. O quer que se diga, a arte é uma aristocracia que não é fácil frequentar.”


“Correspondance” (Franz Liszt, citado por Frédéric Martinez)




É o Liszt sempre com preocupações místicas, para quem a música já não chega e que em Fevereiro de 1860 comunica ao gão-duque Charles-Alexandre a sua resolução de se “divorciar do público”. Está cansado de dar vida a uma imagem desabitada.

Uma crise como essa deve atingir, numa certa altura, todos os artistas que representam para um público. Mas no seu caso, não é a velhice que o impede de continuar a fazer o papel do galã, ou como, em “Singing in the rain”, o sonoro que revela uma voz impossível. Liszt está no auge da sua arte, mas sente-se usado pelo direito que os outros se arrogam de esperar dele novas proezas. Sente a necessidade de se separar do “equilibrista” e de levar a decepção aos outros. Já não tem nada a provar e a “aristocracia da arte” exige-lhe demasiado esforço.

A posteridade é que não está pelos ajustes e considera exclusivamente o artista. Tudo o resto, que ele pensava ser maior do que isso, parece aos nossos olhos uma veleidade, senão um outro tipo de pose.

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