domingo, 24 de julho de 2011

A PURGA



“Foi a guerra à hipocrisia que transformou a ditadura de Robespierre em reinado do Terror, e a característica deste período continua a ser a autodepuração dos dirigentes.”


(Hannah Arendt)



Essa característica pode ver-se, por exemplo, no filme de Koji Wakamatsu “United Red Army” (2007), em que os estudantes, ao mesmo tempo para se defenderem das infiltrações da polícia e se emularem uns aos outros na dedicação exclusiva à causa revolucionária, foram “canibalizados” pela ideia da pureza, ao ponto da própria acção se ter tornado um pretexto para a purga permanente.

O pensamento colectivo é sempre outra coisa que o pensar. Que um líder, pela certeza que consegue transmitir, pela intransigência, muitas vezes apenas verbal, possa transformar-se no único sujeito e na única vontade justifica que nalguns casos se tenha falado em poder hipnótico. Mas o que está por explicar é o papel das ideias nas operações deste poder. Há na adesão dos “hipnotizados” o mesmo tipo de entrega e de “liberação” de quem, finalmente, encontrou o absoluto que procurava… Como se para alguns de nós a consciência fosse um fardo por de mais pesado e fosse urgente “depositá-la” nas mãos do primeiro de confiança.

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