quinta-feira, 21 de maio de 2009

SINGULARIDADES


Manoel de Oliveira e os actores de "Singularidades duma rapariga loira"


Oliveira conta aqui a história dum anjo loiro que se revela ladrão.

É preciso compreender a reacção do jovem Macário (Ricardo Trêpa). Tal como nesse outro conto moral, "La Marquise von O", a decepção é tanto maior quanto de mais alto caem as nossas ilusões. No filme de Rohmer, o salvador da bela marquesa é o mesmo homem que viola o seu corpo inanimado.

Há um apontamento de mestre que define a personagem de Luísa (Catarina Wallenstein). Na cena do beijo, a câmara foca apenas as pernas. E vemos a rapariga loira fazer algo de "out of tune": ela levantou a perna como se sentisse numa cena já vista.

Tanto basta para termos de procurar noutro lado a sua paixão (ou o seu vício).

É curioso o desfasamento dos costumes conforme a narração de Eça (o sobrinho pedindo a bênção) que Oliveira conserva tal e qual, no meio de alguns adereços modernos, como o computador.

Se quisesse actualizar realmente a narrativa, Oliveira teria de dar algum lugar ao "politicamente correcto": afinal a rapariga sofria de cleptomania; nada mais do que isso.

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