sexta-feira, 1 de maio de 2009

O JUÍZO DOS MORTOS


"Nosferatu" (1922-F.W. Murnau)



"Os mortos alimentam-se de juízos, os vivos de amor."

(Elias Canetti)


Não devemos julgar os mortos? É o que fazemos todos, talvez, como queria Alain, para escolher o melhor de cada um e esquecer o resto. Nessa medida, esculpimos os modelos que nos inspiram.

Enquanto que a recordação dos defeitos e dos males acessórios envenena a nossa vida e vai contra o dever piedoso de "enterrar os mortos", a "sublimação", para empregar um termo freudiano, impede o "Nosferatu", a alma penada ou o que se quiser, para fazer em nós a paz e nos guiar pelos melhores modelos da humanidade.

Em contrapartida, os vivos não querem ser julgados porque isso é selar o seu destino. A liberdade de agir e de nos renovarmos depende, pelo contrário, de não nos cobrirem de terra e plantarem em cima um epitáfio.

"Que quereis, meu caro, Anaxágoras o disse, a vida é uma viagem." (*) Estas palavras de Bergotte, quando já a sua vida se ia "arrefecendo progressivamente", dizem tudo. Os vivos precisam de espaço, mesmo quanto já têm pouco tempo. Precisam de crescer em direcção à verdade. "Now, I may wither into the truth." (Yeats)



(*) "La Prisonnière" (Marcel Proust)

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