“(…) revivemos durante alguns minutos a organização do dispositivo cinematográfico, com a sua ausência de olhar e o seu plano geral que impede que se compreenda aquilo que é mostrado na falta de um comentador mais informado do que os espectadores.
Porque, neste estádio do plano geral fixo, como ir além da descrição? Na transmissão em pseudo-directo da “revolução romena”, já tínhamos feito a experiência da não-eloquência das imagens, se assim podemos falar, da incapacidade da imagem para narrar, na ausência do saber lateral sobre a realidade. Revivemo-lo no 11 de Setembro,”
“O Terror Espectáculo” (François Jost)
O plano geral, em princípio, não discrimina. Mas a profundidade de campo, por exemplo, pode distinguir um objecto próximo sem deixar de focar os outros planos.
Mas se não conhecermos a história de Susan Alexander, em “Citizen Kane”, não relacionaremos o copo em primeiro plano e a tentativa de suicídio.
Há alguns relatos etnológicos que demonstram que a leitura dum plano não é espontânea. As imagens que hoje dominam a nossa vida como que eclipsaram o “saber lateral da realidade” que permite a sua leitura.
Quanto menos apetrechados em termos linguísticos, mais próximos estamos de ser manipulados pela sua “legendagem”.
As primeiras imagens do ataque às torres do WTC não se distinguiam de facto do cinema. O sentido das imagens vacilou, num primeiro momento, entre o lúdico e o real. A ideia de que a imagem vale mil discursos esconde a sua dependência da linguagem. Só vale mil discursos quando cativa já da palavra.
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