sábado, 9 de maio de 2009

A INTELIGÊNCIA QUE NÃO COMPREENDE


"A Space Odissey" (Stanley Kubrick)


"Bohr, de um certo modo, afirmava que a mecânica quântica não era compreensível; que só a física clássica o era e que nós tínhamos de nos resignar com o facto da mecânica quântica apenas ser parcialmente compreensível, e mesmo assim apenas através da física clássica. (...) Eu suspeitava que a teoria de Bohr estava baseada numa visão muita estreita do que a 'compreensão' podia conseguir. Bohr, assim parecia, pensava a compreensão em termos de imagens e modelos - em termos duma espécie de visualização."

"The Unended Quest" (Karl Popper)


Popper nega que a teoria quântica especificamente represente um argumento contra o determinismo.

"O que é peculiar à teoria quântica é (fase-dependente) a interferência da probabilidade" e os "problemas de interpretação da mecânica quântica podem todos ser convertidos em problemas de interpretação do cálculo de probabilidades."

O filósofo põe igualmente em causa o chamado princípio de indeterminação de Heisenberg: "errada interpretação de certas fórmulas que certificam uma dispersão estatística."

A aparente indeterminação das leis que regem a matéria poderia, assim, ser imputada ao condicionamento a que sujeitamos a medida dos nossos instrumentos e à leitura que fazemos dos seus resultados, tudo fundamentado num contexto sensorial, perceptivo e cultural. Por outras palavras, não desantropologizamos o bastante para poder captar as regularidades e os períodos mais longos ao nível da microfísica, por exemplo, pois tudo isto ultrapassa em muito a "escala humana". A incerteza pode esconder a "certeza" se ampliarmos o suficiente.

Esta situação não seria possível sem a potência e a velocidade de cálculo dos computadores. Estarão eles a impor-nos a passagem dum limiar absoluto, para lá do qual já não tem sentido falar em humanidade?

O computador não é uma prótese, como o telescópio, por exemplo. Ele amplia a régie das próteses que é o cérebro humano. Se admitirmos que a máquina não pode compreender, o que resulta do acoplamento humano com o computador é um acréscimo de poder e não de compreensão. Com efeito, a quem pertence a inteligência estratégica nesse híbrido de cérebro e máquina?

A profecia de Hal 9000 ("A Space Odissey") é uma das respostas.

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