Cristina Campo (1923/1977)
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"Na época em que foi concebida esta tragédia ("Venise sauvée"), Simone Weil escrevia a Joe Bousquet: 'conseguir compreender totalmente que as coisas e as pessoas existem. Alcançá-lo, nem que seja uma vez antes de morrer; essa é a única graça que eu peço.' Só um sentimento assim, de tal modo indiviso da realidade, tem o poder de criar uma obra poética, a verdade correspondente; e com ela a possibilidade de uma leitura total (que reúna em si todos os planos da vida e da consciência) dos símbolos e das figuras que a mesma coloca perante nós."
"Sob um falso nome" (Cristina Campo)
Que a existência nos pareça evidente e o voto de Simone Weil quase enigmático tem a ver com os planos da vida e da consciência de que fala Cristina Campo.
Não tenho mais consciência de que, por exemplo, este caderno e esta esferográfica existem do que existência do meu braço. E se é o mar que contemplo, faço parte do espectáculo porque posso deixar de estar diante dele e envolver nisso todos os sentidos.
Mas a compreensão total da existência, para ser desejada como a salvação, é outra coisa. Está acima da ordem da responsabilidade compreender que os outros existem. Porque a compreensão de todos os planos da vida diluiria a própria subjectividade na realidade do ser.
Alcançar por um momento esse cume da existência, infelizmente, não nos salva da queda (e da decadência). Não devia ser o maior salto que podemos dar, mas uma plataforma para caminhar na luz. Como o paraíso de Dante, devia ser um triunfo e uma recompensa, e não a visão fugitiva dum lugar onde não poderemos nunca morar.
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