Hiroshima |
"Mas
é verdade que os meios de transporte rápidos fazem mais vítimas do que todos os
tigres da Índia; e a negligência, a
falta de respeito e de escrúpulos que nos permitem suportar esse facto são, sem
dúvida, o que permitiu, por outro lado, os sucessos que não nos podem
negar."
"O Homem
Sem Qualidades" (Robert Musil)
É como se o autor dissesse que existe
uma relação de causa e efeito entre o que chamamos progresso e uma crescente
desumanidade. Mas, na verdade, o que estamos, talvez, é mais susceptíveis em
relação ao que separa o humano do desumano.
Se nos couraçamos contra o sofrimento
provocado pelas consequências, voluntárias ou não, do desenvolvimento económico
e tecnológico, impomo-nos, doutra parte, o espectáculo do mundo sofredor,
tratamento que está, em grande parte, na origem da nossa couraça, mas que,
paradoxalmente, satisfaz, ao mesmo tempo, uma consciência impotente que não
quer abdicar, no melhor dos casos, duma lucidez que a confirma no seu lugar de
"civilizada".
O lançamento, sobre Hiroshima e
Nagasaki, de "Little Boy" e
"Fat Boy" (aqui os nomes são
uma tentativa de humanizar o que não é, de todo, humano) é o caso-limite da
negligência, da falta de respeito e de escrúpulos de que fala Musil.
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