sábado, 1 de outubro de 2011

BONADEA

"A conversão de S. Paulo" (Caravaggio)


"(...) e também por causa duma deusa do Pudor cujo templo, na Roma antiga, se tinha tornado, por uma estranha reviravolta,no centro de todos os deboches."


"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)



Quando é que os crentes se tornam cínicos? E são tanto mais cínicos quanto mais acreditaram. Não é o caso dos que mudaram "de armas e bagagens" para outra crença. Por exemplo, Saulo de Tarso torna-se cristão num momento em que os combatia ainda. Parece não ter havido um período, normal, de dúvida. Mas por isso é que há uma queda do cavalo e o famoso: "por que me persegues?"

Se calhar, é a fulminância duma "estrada de Damasco" e a reconversão não problemática (apocrítica, diria Michel Meyer) que livram o crente do cinismo.

Os debochados de que fala Musil deixaram, visivelmente, de crer na santidade do Pudor. Mas o próprio local do culto fornece, com o sacrilégio, o suplemento de prazer que os compensa do antigo “erro”.

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