"A conversão de S. Paulo" (Caravaggio) |
"(...)
e também por causa duma deusa do Pudor cujo templo, na Roma antiga, se tinha
tornado, por uma estranha reviravolta,no centro de todos os deboches."
"O Homem
Sem Qualidades" (Robert Musil)
Quando é que os crentes se tornam
cínicos? E são tanto mais cínicos quanto mais acreditaram. Não é o caso dos que
mudaram "de armas e bagagens" para outra crença. Por exemplo, Saulo
de Tarso torna-se cristão num momento em que os combatia ainda. Parece não ter
havido um período, normal, de dúvida. Mas por isso é que há uma queda do cavalo
e o famoso: "por que me
persegues?"
Se calhar, é a fulminância duma
"estrada de Damasco" e a reconversão não problemática (apocrítica,
diria Michel Meyer) que livram o crente do cinismo.
Os debochados de que fala Musil
deixaram, visivelmente, de crer na santidade do Pudor. Mas o próprio local do
culto fornece, com o sacrilégio, o suplemento de prazer que os compensa do
antigo “erro”.
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