Himmler, Hedwig Potthast e a sua filha Gudrün. |
"O
membro da hierarquia nazi mais dotado para resolver problemas de consciência
era HImmler. Ele cunhava slogans, como a famosa 'palavra de ordem' das S.S.,
tirada dum discurso de Hitler perante as S.S. em 1931: 'A minha Honra é a minha
Lealdade", 'slogans' a que Eichmann chamava de 'palavras aladas' e os
juízes de 'palavreado oco' - e emitia-as , como se recordava Eichmann, 'à volta
da passagem do ano', presumivelmente com um bónus de Natal. Eichmann só se
lembrava de uma delas e não deixava de a repetir: 'Estas são batalhas que as
futuras gerações já não terão de travar.'
"Eichmann in Jerusalem" (Hannah Arendt)
Para sossegar as nossas consciências
ou um resto de esperança na natureza dos homens, precisaríamos que os
"assassinos de massas' do regime nazi fossem muito diferentes da gente
comum. Mas veja-se o tão inspirado chefe da Gestapo, ao mesmo tempo exemplar
chefe de família, não esquecendo, como qualquer de nós, as mensagens de Natal e
uma pequena lembrança paternal às suas feras em negro.
Como diz Hannah Arendt, estes
carrascos não eram sádicos e, em vez de escolherem os psicopatas que mais
prazer tirassem das torturas, procuravam neutralizar nos alemães
"normais" um natural, mas perigoso, sentimento de piedade.
A retórica do III Reich ia nesse
sentido, fazendo que o horror e a falta de escrúpulos se tornassem um dever
"alemão". Tal como em simétricos regimes, é em nome do futuro ( "les lendemains qui chantent")
que se liberta o Apocalipse. No fraseado de Himmler, a embriaguez do poder
exigia o sacrifício da geração presente como uma grande tarefa histórica.
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