quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PRENDAS DE NATAL

 
Himmler, Hedwig Potthast e a sua filha Gudrün.




"O membro da hierarquia nazi mais dotado para resolver problemas de consciência era HImmler. Ele cunhava slogans, como a famosa 'palavra de ordem' das S.S., tirada dum discurso de Hitler perante as S.S. em 1931: 'A minha Honra é a minha Lealdade", 'slogans' a que Eichmann chamava de 'palavras aladas' e os juízes de 'palavreado oco' - e emitia-as , como se recordava Eichmann, 'à volta da passagem do ano', presumivelmente com um bónus de Natal. Eichmann só se lembrava de uma delas e não deixava de a repetir: 'Estas são batalhas que as futuras gerações já não terão de travar.'


"Eichmann in Jerusalem" (Hannah Arendt)




Para sossegar as nossas consciências ou um resto de esperança na natureza dos homens, precisaríamos que os "assassinos de massas' do regime nazi fossem muito diferentes da gente comum. Mas veja-se o tão inspirado chefe da Gestapo, ao mesmo tempo exemplar chefe de família, não esquecendo, como qualquer de nós, as mensagens de Natal e uma pequena lembrança paternal às suas feras em negro.

Como diz Hannah Arendt, estes carrascos não eram sádicos e, em vez de escolherem os psicopatas que mais prazer tirassem das torturas, procuravam neutralizar nos alemães "normais" um natural, mas perigoso, sentimento de piedade.

A retórica do III Reich ia nesse sentido, fazendo que o horror e a falta de escrúpulos se tornassem um dever "alemão". Tal como em simétricos regimes, é em nome do futuro ( "les lendemains qui chantent") que se liberta o Apocalipse. No fraseado de Himmler, a embriaguez do poder exigia o sacrifício da geração presente como uma grande tarefa histórica.



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