(mzephotos.com) |
"O 'dever' do homem é de tal maneira ser rico que a presença de um único pobre clama contra os céus, como a abominação de Sodoma, e despoja o próprio Deus, forçando-o a encarnar-se e a passear-se escandalosamente pela terra, vestido apenas dos farrapos das suas Profecias."
"Exégèse des Lieux-Communs” (Léon Bloy)
A passagem do Evangelho que reza que
será mais fácil a um camelo passar pelo buraco duma agulha, do que a um rico
entrar no Reino dos Céus, foi desde sempre mal interpretada, segundo Bloy, pois
que a única exclusão foi a do camelo, refastelando-se os ricos no Paraíso, em
cadeiras de oiro.
Tanta provocação tem razão de ser,
porque o texto evangélico parece ter sido interpretado, em desfavor do camelo,
por todos os ricos ao longo da história. Só isso pode explicar o fenómeno de
tantos de entre eles se considerarem ainda cristãos.
A mito americano por excelência, o do "self-made man" ( e o que é
que "makes the man", qual o
critério do seu sucesso, naquele país, senão a riqueza?) fez precisamente a
leitura do satirista.
Acontece que a ideia que pretendia que
o enriquecimento de uns poucos não era feito à custa da maioria, ou, no fim de
contas a beneficiava, através, por exemplo, da criação de empregos, está hoje manifestamente posta em causa pelos
novos métodos de enriquecer que já não exigem que o homem feito, mas apenas as características
mais predadoras, porque, esses, semeando
à sua volta a destruição, já não contam com o futuro nos seus cálculos.
O rico moderado pela falsa
interpretação do Evangelho é um homem de fé, comparado com esta espécie que se
ri de todos os buracos de agulha e dos respectivos camelos.
0 comentários:
Enviar um comentário