Marcel Proust |
"Charlus
pega o queixo do narrador e deixa subir os dedos magnetizados até às suas
orelhas, 'como os dedos de um barbeiro'." Barthes analisa o trecho de
Proust: "O sentido (o destino) electriza a minha mão; vou romper o corpo
opaco do outro, obrigá-lo (seja a responder, a retirar-se ou a que deixe fazer)
a entrar no jogo do sentido: vou 'fazê-lo falar'. No campo amoroso não há
'acting-out'; nenhuma pulsão, talvez, inclusivamente, nenhum prazer, nada mais
do que signos, uma actividade desprovida de fala; dispor, em cada ocasião
furtiva, do sistema ( o paradigma) da pergunta e da resposta."
("Fragments
d'un discours amoureux")
O amor como linguagem e compulsão da
fala é, sem dúvida, tema eminente da literatura e Barthes emprega aqui explicitamente
o termo de discurso. Não fala do corpo, senão negativamente ( as pulsões, o
próprio prazer podem estar de todo ausentes ).
É provável que a "paixão amorosa", tenha uma origem exclusivamente
literária ou relacionada com as várias formas de arte, com o seu código
específico. Aquilo a que chamamos amor (seguido ou não da palavra romântico) é,
de facto, romanesco ou, nos nossos tempos, "cinematográfico" (e
"mediático").
Por isso, o "paradigma" da
pergunta e da resposta, muito para lá das palavras, pode explicar a dialéctica
amorosa e as paixões idealizantes.
Parece que ao amor, neste sentido, é
indispensável uma imagem que não vem do indivíduo (ou só dele), mas da cultura.
Do gesto do barão de Charlus podíamos
expurgar toda a sensualidade e atribuí-lo ao campo do poder e da conquista.
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