“’Tu
não compreendes por que é que digo isto’, continuou, ‘ mas é toda a história da
vida. Tu falas de Bonaparte e da sua carreira’ (embora Pierre não tivesse
mencionado Bonaparte), ‘mas Bonaparte quando meteu mãos à obra foi passo a
passo em direcção ao seu objectivo. Era livre, só tinha o seu alvo a
considerar, e alcançou-o. Mas amarra-te a uma mulher e, como um condenado em
ferros, perdes toda a liberdade! E tudo o que tens de esperança e força apenas
te enterra mais e te atormenta de desgosto. Salões, tagarelice, bailes,
vaidade, e trivialidade – é este o meu círculo encantado a que não posso
escapar.”
“Guerra e Paz” (leão Tolstoi)
A paixão do Príncipe André é a
ambição. Por isso faz aquele requisitório contra as mulheres e o casamento. As
que encontra nos salões, como o de Anna Pavlovna, "interessam-se"
pela política e pelos "grandes temas", na medida em que isso atrai os
seus convidados. É um aperitivo a somar às bebidas e aos pratos extravagantes.
Lise, a sua mulher-criança só se encontra bem nesse meio de intrigas e de
frivolidade. Quando se nasceu príncipe e tão próximo do poder, que resta ao
ambicioso? Napoleão foi a sua grande oportunidade. Combatê-lo em Austerlitz e
Borodino, era muito mais do que um dever patriótico. Era a razão da sua vida.
Daí toda crueldade para com Lise e a sua fria incompreensão.
Mas, apesar de tudo, ficamos com a
impressão de que ele é a alma mais nobre do romance. Porquê?
Talvez porque nele, aquilo que mais o
distingue do seu amigo Pierre (que tem tantos traços do próprio Tolstoi), a
força de vontade, faz dele uma espécie de herói.
0 comentários:
Enviar um comentário