"'Então
tu dirias que a sobriedade mental é uma condição da nossa natureza, tal como a
dor, e não uma matéria que possa ser aprendida? Porque decerto, se aquele que
deve ser mentalmente sóbrio, precisa de aprender primeiro a sabedoria, não
poderá ser convertido, dum dia para o outro, da sua loucura.
-Não,
Ciro', disse o príncipe, 'mas certamente
tu terás conhecido pelo menos um homem que por pura loucura se dispôs a lutar
com um homem mais forte do que ele e que no dia da sua derrota ficou curado da
sua insensatez.'"
"Ciropedia"
(Xenofonte)
Tigranes quer convencer o rei dos
persas de que nada terá a temer da parte do pai e dos seus, se não forem
castigados, devido à sua rebelião, porque a derrota devolveu o juízo às suas
cabeças. E, como lisonja, acrescenta que os vencidos reconhecem, agora, não só
a força de Ciro, mas que ele é melhor homem do que eles.
Mas no final o que fica é que só o
medo impedirá os subjugados de repetir o desafio.
De facto, ninguém aprende pela força,
mas pode preferir, na incerteza, manter-se sob o jugo. Assim governaram o mundo
os Romanos durante alguns séculos. A pedagogia romana utilizava tanto o medo
(através da dizimação, por exemplo), quanto a
sedução que corrompia de um modo seguro as elites.
No nosso presente aperto, temos o
exemplo dos Gregos que vão de greve geral em greve geral, sem uma solução à
vista. Não é certo que seja a força a chamá-los à razão, porque essa razão é a
da morte lenta. No fundo, eles estão, conscientemente ou não, a usar a arma do
medo contra os que lhes querem cortar a carne.
Rui Tavares referiu-se há dias ao caso
da Bélgica que é um país sem governo há mais de um ano e um dos mais
endividados da Europa. “Mas a economia
belga é das que mais cresceu na zona euro nos últimos tempos, sete vezes mais
do que a economia alemã." (...) "Sem governo, nos tempos que correm,
quer dizer sem austeridade."
É caso para reflectir. O cerne do
problema das "dívidas soberanas" é a imaginação, por vezes chamada de
falta de confiança dos "mercados". Ora a imaginação combate-se com
mais imaginação.
Talvez que os Gregos consigam inspirar
um medo maior do que o medo de perder um grande negócio.
1 comentários:
A louca da casa era como Teresa de Jesus se referia quanto à imaginação.
Em toda a extensão e profundidade, cada vez se entende melhor o que a Doutora dizia.
Maria Helena
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