sábado, 22 de outubro de 2011

MEDO NO CASINO




"'Então tu dirias que a sobriedade mental é uma condição da nossa natureza, tal como a dor, e não uma matéria que possa ser aprendida? Porque decerto, se aquele que deve ser mentalmente sóbrio, precisa de aprender primeiro a sabedoria, não poderá ser convertido, dum dia para o outro, da sua loucura.

-Não, Ciro', disse o príncipe,  'mas certamente tu terás conhecido pelo menos um homem que por pura loucura se dispôs a lutar com um homem mais forte do que ele e que no dia da sua derrota ficou curado da sua insensatez.'"


"Ciropedia" (Xenofonte)




Tigranes quer convencer o rei dos persas de que nada terá a temer da parte do pai e dos seus, se não forem castigados, devido à sua rebelião, porque a derrota devolveu o juízo às suas cabeças. E, como lisonja, acrescenta que os vencidos reconhecem, agora, não só a força de Ciro, mas que ele é melhor homem do que eles.

Mas no final o que fica é que só o medo impedirá os subjugados de repetir o desafio.

De facto, ninguém aprende pela força, mas pode preferir, na incerteza, manter-se sob o jugo. Assim governaram o mundo os Romanos durante alguns séculos. A pedagogia romana utilizava tanto o medo (através da dizimação, por exemplo), quanto a  sedução que corrompia de um modo seguro as elites.

No nosso presente aperto, temos o exemplo dos Gregos que vão de greve geral em greve geral, sem uma solução à vista. Não é certo que seja a força a chamá-los à razão, porque essa razão é a da morte lenta. No fundo, eles estão, conscientemente ou não, a usar a arma do medo contra os que lhes querem cortar a carne.

Rui Tavares referiu-se há dias ao caso da Bélgica que é um país sem governo há mais de um ano e um dos mais endividados da Europa. “Mas a economia belga é das que mais cresceu na zona euro nos últimos tempos, sete vezes mais do que a economia alemã." (...) "Sem governo, nos tempos que correm, quer dizer sem austeridade."

É caso para reflectir. O cerne do problema das "dívidas soberanas" é a imaginação, por vezes chamada de falta de confiança dos "mercados". Ora a imaginação combate-se com mais imaginação.

Talvez que os Gregos consigam inspirar um medo maior do que o medo de perder um grande negócio.


1 comentários:

Anónimo disse...

A louca da casa era como Teresa de Jesus se referia quanto à imaginação.
Em toda a extensão e profundidade, cada vez se entende melhor o que a Doutora dizia.

Maria Helena