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"Pitágoras,
superior de mosteiro, foi um homem muito diferente de Tales, menos errante,
mais político, com os olhos menos voltados para o mar indócil, mais vezes para
os astros, ao ponto de saber adivinhar que a terra é esférica. Tendo medido
alguns intervalos dos astros, e também os intervalos dos sons por meio do
monocórdio, e sabendo profundamente que os números se formam e se combinam
segundo leis que nada consegue inflectir, precipitou-se a declarar que tudo é número. E fez bem em
precipitar-se, porque ainda hoje, quando se tem mil razões para o dizer, como
ele o entendia, neste sentido que toda a desordem se faz segundo o Espírito,
hoje esta verdade se apaga ainda diante do testemunho dos sentidos, desde que a
força afirmativa do legislador se deixe vencer."
"Abrégés
pour les aveugles" (Alain)
Nada de novo nos tempos que correm,
com a crise que nos cai em cima. Quando Pitágoras vivia, a crise não se tinha
tornado na espécie de destino que hoje é. Podíamos até chamar a isto uma ficção
politeísta, porque está à vista de todos que foi a loucura de alguns ao nível
do planeta e os "buracos" criados por outros loucos cá de casa que
provocaram esta situação, mas os "legisladores" da Europa e do país
tiraram desse facto as consequências mais vantajosas para a sua casta e para os
"loucos" que estão por detrás deles, tornando-se os idólatras da
crise. Porque eles não querem (nem podem com a sua mentalidade) vencer a crise.
A crise dá-lhes poder e cria em todo o lado o "Estado de excepção". É
ver como alguns economistas, de vários jaezes, vêm a público profetizar,
inebriados, como os velhos generais com o anúncio da guerra.
Toda a desordem política e social vem
dos homens e só deles. Bastava um pouco da sabedoria pitagórica para haver mais
justiça, que é outra noção que tem a ver com a música e o tempo justo, e com os
astros e as suas "leis inflexíveis".
A maioria dos homens não tem poder
suficiente para provocar a desordem. Salazar sonhava com um povo assim, ordeiro
e trabalhador, mas não precisava de o privar da liberdade. Era só preciso que a
lei e os juízes contivessem os tiranetes enlouquecidos pelo dinheiro.
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