terça-feira, 4 de outubro de 2011

DIREITO POR LINHAS TORTAS




"A ideia da impossibilidade faz soar um sinal de alarme na mente de muitos. Para alguns, qualquer sugestão de que possam existir limites à compreensão humana do Universo ou ao progresso científico é uma ideia perigosa que mina a confiança no empreendimento científico. Igualmente acríticos são aqueles que entusiasticamente abraçam qualquer sugestão de que a ciência possa ser limitada, porquanto suspeitam os motivos e temem os perigos duma desenfreada investigação do desconhecido."


"Impossibility-The limits of Science and the Science of Limits" (John D. Barrow)




É certamente  inesgotável o que podemos investigar e "processar" cientificamente. Mas a ideia do Tudo e do Todo é muito mais ambiciosa.

Desde sempre que as nossas tentativas de explicação vão além dos problemas reais. Se fôssemos realmente pragmáticos, não tínhamos que lançar as nossas redes tão alto e tão fora do nosso alcance. Mas claro que não é essa a nossa percepção. Parece-nos que não há nada que não possa ser alcançado (se nos portarmos bem), e a física teórica já não faz do homem a medida de todas as coisas. Resta saber se a ciência especulativa pode ter maior crédito do que a matemática.

Porque a totalidade é uma ideia da nossa razão, não deixaremos de a encontrar em todas as teorias sobre o Universo. Mas é a própria razão que nos alerta para a impossibilidade de pensarmos o Universo real. Ele não pode ser mais objecto do nosso pensamento do que Deus.

A atitude dos que querem parar a investigação por ser a "caixa de Pandora" é, decerto, irracional. O nosso futuro depende não só da investigação "justificada" pelos problemas reais da humanidade, mas daquela outra que é motivada pelos falsos problemas, isto é, a investigação que lida com o problema da impossibilidade.

"Deus escreve por linhas tortas" quer dizer isso mesmo.

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