Um exemplo flagrante da ilusão
turística (o turista sendo, no fundo, um coleccionador a quem importa mais ter
"lá estado" do que conhecer) é a impressão que, a quase todos, dão as
ruínas da Grécia Antiga. Para além de serem muito menos "físicas" do
que os vestígios romanos, foram pelo tempo duplamente "maquilhadas".
A brancura e o despojamento dos templos não correspondem ao espírito da nação,
mas são o inescapável efeito do trabalho incansável do tempo. Porque o que os
Gregos tinham diante dos olhos, como se sabe, era uma policromia. Os verdes, os
azuis e os vermelhos gritavam dos frontões, dos trÍglifos e das métopas contra
o céu intenso e puro. Tanta garridice casava bem, afinal, com a proverbial
tagarelice dos Atenienses. O que resta da cidade já não espelha nada disso. Por
cima da verdadeira, outras cidades se foram "construindo", de que
podemos hoje fazer uma outra arqueologia.
É difícil, para nós, conciliar com a cor
o que nos chegou até hoje, por exemplo,
da poesia e da filosofia gregas. A Idade de Ouro deve ser sempre
idealizada para motivar o espírito. Mas,
nas suas contradições, o povo grego é, sobretudo, a imagem da própria
liberdade.
É muito significativo que, hoje, os
descendentes desse povo magnífico estejam, em vida, a sofrer o destino das suas
ruínas.
0 comentários:
Enviar um comentário