quarta-feira, 19 de outubro de 2011

POLICROMIA





Um exemplo flagrante da ilusão turística (o turista sendo, no fundo, um coleccionador a quem importa mais ter "lá estado" do que conhecer) é a impressão que, a quase todos, dão as ruínas da Grécia Antiga. Para além de serem muito menos "físicas" do que os vestígios romanos, foram pelo tempo duplamente "maquilhadas". A brancura e o despojamento dos templos não correspondem ao espírito da nação, mas são o inescapável efeito do trabalho incansável do tempo. Porque o que os Gregos tinham diante dos olhos, como se sabe, era uma policromia. Os verdes, os azuis e os vermelhos gritavam dos frontões, dos trÍglifos e das métopas contra o céu intenso e puro. Tanta garridice casava bem, afinal, com a proverbial tagarelice dos Atenienses. O que resta da cidade já não espelha nada disso. Por cima da verdadeira, outras cidades se foram "construindo", de que podemos hoje fazer uma outra arqueologia.

É difícil, para nós, conciliar com a cor o que nos chegou até hoje, por exemplo,  da poesia e da filosofia gregas. A Idade de Ouro deve ser sempre idealizada para motivar o espírito.  Mas, nas suas contradições, o povo grego é, sobretudo, a imagem da própria liberdade.

É muito significativo que, hoje, os descendentes desse povo magnífico estejam, em vida, a sofrer o destino das suas ruínas.

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