(Estação do Rossio, Lima de Freitas) |
"A
única coisa que importa, como em todo o pessimismo bem compreendido, é ter
encontrado o elemento inelutável sobre o qual repousar."
"O Homem
Sem Qualidades"
(Robert Musil)
Ora se há povo que tenha os
ingredientes de cultura necessários para ser fatalista ("o elemento inelutável"), é bem o
português, ou a canção nacional não se chamasse fado.
O "fado" exprime-se de
diversas formas. É o "é tudo uma cambada", que não distingue o "
trigo do joio", a "choldra" queirosiana e são, mais
recentemente, os vícios do "portuguesinho" ( assim mesmo, com o
diminutivo queremos reduzir-nos à porçāo côngrua e fazer um paralelismo
"inelutável" com o tamanho do país): como fomos atrás da sereia do
euro e do crédito fácil, "vivemos
agora acima das nossas possibilidades" e há que sofrer os trabalhos do
serralheiro que fará encolher a cama em que nos deitamos, qualquer que seja o
tamanho do corpo. Já estamos a pôr as pernas a jeito para serem cortadas e
caberem neste leito de Procusta forjado pela finança do desespero.
Somos pessimistas sim senhor, e desde,
pelo menos, a morte do Príncipe Perfeito. Mas, coisa de surpreender, isso não
nos torna menos amáveis. Descarregamos como podemos e fazemos boa cara. Sabemos
"desenrascar-nos" com o nosso fatalismo todo e manter a cabeça fora
da água. Podeis estar certos de que o Estado não nos merecerá mais lealdade
depois de mandar vir o "serralheiro" e de deixar impunes os poucos,
mas que são a tristíssima elite deste país, que abriram os odres da tempestade
(falo só das causas internas). O mercado paralelo florescerá como nunca se viu,
e com a cumplicidade da mesma maioria intratável.
Temos muito a ver com os gregos e, com
razão, se Ulisses entrou pelo "mar da palha". E estamos hoje nos
mesmos apuros, porque, lá bem no findo, acreditamos no destino com o hemisfério
esquerdo, e com o direito não. Ou pode ser ao contrário.
0 comentários:
Enviar um comentário