quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O POVO



"O povo não pode decidir, até que alguém decida quem é o povo."


"The Approach to Self-Government"  (Sir Ivor Jennings)



Podia-se pensar que o povo são todos os que vivem num determinado país. Mas a história mostra-nos o contrário disso, com  cidadãos e escravos e várias formas de censo, pelo sangue, pelo dinheiro, ou até pelas ideias ou a religião. Uma parte tem, então, de decidir pelo todo. E, a partir daí, passa a existir o povo "soberano" e o povinho (quando pacato e submetido; quando não o é, chamam-lhe alguns povão), que é tudo o resto. O resto pode até ser uma maioria, e esta é o tema de alguns poetas líricos ou dos "romancistas russos" de que fala Pessoa.

Platão foi o primeiro a pensar estas coisas, e sabemos como estava longe de considerar que aquilo a que ele chamava de "Grande Animal" pudesse alguma vez ser um verdadeiro soberano, porque, segundo ele, se movia apenas por apetites.

Ora, apesar de hoje ser tratado, periodicamente, como soberano, os políticos não são menos obrigados a usar com ele da astúcia aconselhada por Platão. No melhor dos casos, alguns políticos tratam o eleitorado como uma força da natureza, com movimentos mais ou menos estatisticamente previsíveis. No pior, outros, parecem mentirosos compulsivos, mas também podíamos nomeá-los, simplesmente, de pragmáticos.

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