"O
povo não pode decidir, até que alguém decida quem é o povo."
"The Approach to Self-Government" (Sir Ivor Jennings)
Podia-se pensar que o povo são todos
os que vivem num determinado país. Mas a história mostra-nos o contrário disso,
com cidadãos e escravos e várias formas
de censo, pelo sangue, pelo dinheiro, ou até pelas ideias ou a religião. Uma
parte tem, então, de decidir pelo todo. E, a partir daí, passa a existir o povo
"soberano" e o povinho (quando pacato e submetido; quando não o é,
chamam-lhe alguns povão), que é tudo o resto. O resto pode até ser uma maioria,
e esta é o tema de alguns poetas líricos ou dos "romancistas russos"
de que fala Pessoa.
Platão foi o primeiro a pensar estas
coisas, e sabemos como estava longe de considerar que aquilo a que ele chamava
de "Grande Animal" pudesse alguma vez ser um verdadeiro soberano,
porque, segundo ele, se movia apenas por apetites.
Ora, apesar de hoje ser tratado,
periodicamente, como soberano, os políticos não são menos obrigados a usar com
ele da astúcia aconselhada por Platão. No melhor dos casos, alguns políticos
tratam o eleitorado como uma força da natureza, com movimentos mais ou menos
estatisticamente previsíveis. No pior, outros, parecem mentirosos compulsivos,
mas também podíamos nomeá-los, simplesmente, de pragmáticos.
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