"Les pièces à conviction" (Daumier) |
"Os
tribunais parecem-se com caves onde dorme em garrafas a sabedoria dos nossos
antepassados; abre-se essas garrafas e é quase de chorar quando se descobre até
que ponto o esforço de precisão do homem, quando chega ao último grau de
perfeição, é imbebível."
"O Homem
Sem Qualidades" ( Robert Musil)
Mas o que é que acontece quando o réu é
"parcialmente" doente? Diz
Musil que, então, os "professores de
direito querem que se seja, também, parcialmente são.", ou seja,
responsável. E a lei, sem dúvida, não poderia ser aplicada se o juiz devesse
considerar a consciência de Moosbrugger como uma corrente alternada, sem se
saber onde e quando se verificam as "fases".
A "precisão" consiste,
então, em isolar a consciência do seu contexto psíquico e do seu contexto
social, convertendo a "justiça" em anatomia.
Contra isso, a tendência de justificar
o crime pela influência do meio e pelas origens sociais, ou pelos traumatismos
da infância, veio pôr a nu a falta de fundamento da "sabedoria
engarrafada", arrastando os tribunais no mesmo processo de perda de
autoridade que corrói os outros baluartes da sociedade burguesa. E nem era
precisa a degradação da justiça pelos impulsos corporativos para compreender
como o mal é profundo.
Uma justiça "dessacralizada"
e sem o álibi dos grandes princípios é o que parece resultar desta situação.
Mas limitar-se a impedir a violação da lei parece-se, em sociedades tão
desiguais como a nossa, com o direito do mais forte...
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