quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A VÉNUS HOTENTOTE

"La Vénus Noire" (2010, Abdellatif Kechiche)



O filme é rebarbativo nas suas descrições. Insiste no circo fora do espectáculo. Mas fica uma parábola “barroca” para nossa edificação: a história da exploração integral de um ser humano.

Tal como o animal de que tudo é aproveitado, a sua energia enquanto vivo e a sua carne depois de morto, Sarah Baartman, natural da África do Sul, nos últimos anos do império napoleónico, foi exibida diante da populaça de Londres e de Paris e, tornada um fenómeno de exotismo, mesmo para a alta sociedade que é aqui apresentada como mais selvagem na sua decadência do que os próprios selvagens. Segundo o filme, a sua carreira terminou depois de falhar na ocultação da sua inteligência e sensibilidade que não agradavam a quem procurava uma excitação fácil e sem culpa (mas, na verdade, porque o espectáculo não tinha condições para prosseguir no país ocupado, depois da queda do imperador). Sarah fica então reduzida à prostituição pura e dura e acaba por morrer devido a uma infecção. Por fim, já como cadáver, o seu corpo é apropriado por naturalistas, como Cuvier, que no interesse da ciência o desconjuntaram sem dó nem piedade.

A sua vulva, objecto duma inaudita curiosidade (com o famoso "avental hotentote"), foi conservada em formol para um segundo ciclo de exibição no anfiteatro das universidades e o seu traseiro em gesso oferecido numa outra espécie de circo.

1 comentários:

Anónimo disse...

É um dos paradoxos que vivo: sinto necessidade de conhecer o horror de que a nossa natureza humana é capaz, mas não não consigo "ver".
Pela mão de Mandela, Sarah Baartman regressou à sua terra.

Maria Helena