domingo, 4 de setembro de 2011

O PESCADOR


http://www.flickr.com/photos/patrickmayon




Observo-o da minha otomana de areia. Equipado dos pés à cabeça, está de pé, junto à cana espetada no chão, de braços cruzados, como quem espera numa fila.

Que espera ele? A vibração da cana que anuncie o peixe? Dir-se-ia que o espectáculo do mar, que apaixona tantos de nós, não lhe diz nada. Ou esconde-se ele numa imobilidade vígil, mas que não contempla?

Não me parece alguém que pesque "para comer". É o desporto que o motiva, um desporto quase intelectual, porque os gestos são raros, e se poderia pensar que é propício ao diálogo connosco mesmos.

Mas não é certo que assim seja. O peixe pode ser o mantra que nos impede de pensar, para alcançar um outro tipo de relação com o mar. Sem adjectivos nem palavreado.

Também me ocorre a figura do falso pescador que só busca um emprego do tempo e uma postura. Quando estamos sozinhos, acontece muitas vezes que nos tornamos demasiado conscientes de coisas como a posição das nossas mãos ou o facto de descansarmos sobre um pé. É contra essas indecisões que algumas pessoas começam por fumar. Outras, metem-se no carro e vão até à praia, refugiar-se numa atitude que faça com que os outros se esqueçam dele.

Se imitamos os outros, é muitas vezes para conquistar a paz.



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