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Observo-o da minha otomana de areia.
Equipado dos pés à cabeça, está de pé, junto à cana espetada no chão, de braços
cruzados, como quem espera numa fila.
Que espera ele? A vibração da cana que
anuncie o peixe? Dir-se-ia que o espectáculo do mar, que apaixona tantos de
nós, não lhe diz nada. Ou esconde-se ele numa imobilidade vígil, mas que não
contempla?
Não me parece alguém que pesque
"para comer". É o desporto que o motiva, um desporto quase
intelectual, porque os gestos são raros, e se poderia pensar que é propício ao
diálogo connosco mesmos.
Mas não é certo que assim seja. O
peixe pode ser o mantra que nos impede de pensar, para alcançar um outro tipo
de relação com o mar. Sem adjectivos nem palavreado.
Também me ocorre a figura do falso
pescador que só busca um emprego do tempo e uma postura. Quando estamos
sozinhos, acontece muitas vezes que nos tornamos demasiado conscientes de
coisas como a posição das nossas mãos ou o facto de descansarmos sobre um pé. É
contra essas indecisões que algumas pessoas começam por fumar. Outras, metem-se
no carro e vão até à praia, refugiar-se numa atitude que faça com que os outros
se esqueçam dele.
Se imitamos os outros, é muitas vezes
para conquistar a paz.
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