"Branca de Neve" (João César Monteiro) |
A propósito do filme "Jeanne Dielman" de Chantal Akerman e de outros em que, aparentemente, quase não existe "mise-en-scène". A câmara não se move e a montagem é reduzida ao mínimo. Seria ainda cinema se o filme fosse um único plano? Orson Welles, por exemplo, dizia que o cinema é a montagem.
Para além das "provocações"
de um César Monteiro, há, por exemplo, os que filmam o sono duma pessoa ou os
fenómenos da natureza, como se a frase de Stendhal sobre o romance como espelho
pudesse ser tomada à letra.
Por muito mérito que tenha o filme de
Akerman, nunca me passaria pela cabeça considerá-lo entre os 19 melhores do
século vinte ("Village Voice"). Pela simples razão que um trabalho
que se aproxima tanto do documentário (sem deixar de ser um ponto de vista,
datado), nunca poder ser cinema "maior".
Penso nalguma pintura moderna, em que
o artista não teve tempo para deixar algo de si. São artefactos quase
instantâneos e que só se justificam pelo marketing e por uma certa ideologia da
inspiração.
Claro que essa pintura, nisso, se
aproxima da arte do fotógrafo e da sorte de alguns flagrantes. Por isso,
também, é preciso que a "sorte" se repita tantas vezes que já não se
possa dizer que não foi uma certa sensibilidade que a "produziu"...
Dizia Van Gogh: "Aqueles que pensam que eu pinto demasiado
depressa, olham-me depressa de mais." A arte aproxima-se, assim, do
pensamento (e, o que é pior, da ideologia). Pede-se ao que contempla a
recriação da obra a partir dum índice, como num quadro de Rothko.
Esta transferência de conteúdo da
"obra" para o admirador é cheia de consequências. A começar pelas que
se verificam no mercado.
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