"Com
os diabos, sabemos bem que tudo é explicável e racional nalgum sentido. Um
automóvel que vira é racional para o espectador que só quer compreender. Mas o
viajante que está dentro gostaria duma viatura racional, não de um acidente
racional. E, melhor ainda, será que vai contra a mecânica o fabricante de
automóveis que pretende construir um melhor automóvel?"
"
“Éléments d'une doctrine radicale" (Alain)
A discussão nasceu a propósito do
direito que, nas palavras do filósofo, não é mais do que a igualdade.
Ora, todas as sociedades conhecidas
foram, em maior ou menor grau, desiguais. Mas mesmo que a igualdade seja um
conceito que não existe na prática em nenhum lugar e que as diferenças sociais
e a justiça possível em cada momento histórico possam ser explicadas pelas
circunstâncias e pela história de cada sociedade, o facto do direito
"virar na curva" torna o seu aperfeiçoamento um objectivo legítimo.
Também isto não é ir contra o direito, mas ser racional de um modo útil para a
humanidade.
O problema é que o direito (a
igualdade) actualmente existente pode ser justificado pela razão, quando o
julgamos como espectadores ou como refractários a uma mudança que pode pôr em
causa o nosso conforto.
E "infelizmente, a ciência é também reaccionária quando lhe dão dez mil
francos por ano." (ibidem) Compreende-se o anacronismo do número se
tivermos em conta que o texto foi escrito em 1910. Mas nada mudou, entretanto,
quanto ao essencial.
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