"Cientochiodi" (2008, Ermanno Olmi) |
Um ícone vivo de Cristo (por ironia,
um actor israelita, Raz Degan) recria as condições da história evangélica. A sua
impassibilidade e o seu domínio do texto sagrado impõem-se à pequena comunidade
de marginais do Rio Pó, a braços com uma perseguição em nome da racionalização
paisagística.
Ele rompeu com a sua vida de professor
na Universidade de Bolonha com um acto simbólico: "crucificando" 100
preciosos incunábulos da biblioteca.
Como confessa ao chefe dos carabinieri, ele é responsável por isso,
mas não culpado. Vivia "emparedado" nos livros, prisioneiro da
"letra", e quem não começar
tudo de novo não poderá alcançar a verdade.
E ao seu velho mentor que o ameaça com
o Juízo Final, retorque que é Deus que deve ser julgado por ter deixado morrer
o filho na cruz. Contra o saber livresco diz que vale mais um café com um
amigo.
Quase que estamos de acordo com este
novo "impostor". Mas o seu acto de profanação em que é que se
distingue dos budas dinamitados pelos talibã?
Claro que Cristo sempre denunciou os
fariseus e os que vivem pela "letra". Mas esqueça-se a poesia e o seu
necessário suporte (em papiro, papel ou livro electrónico) e não há espírito
que sobreviva.
O "fundamentalismo
ecologista" de obras como esta parece sonhar ainda com as sociedades orais
e os poetas cegos.
0 comentários:
Enviar um comentário