“O
passado é o real ao nosso nível, mas não está de modo algum ao nosso alcance,
na direcção dele não podemos dar sequer um passo, na direcção dele só podemos
orientar-nos de modo a que uma sua emanação venha a nós. Por isso, o passado é
a melhor imagem das realidades eternas, sobrenaturais. ( A alegria, a beleza da
recordação talvez venha daí.) Proust entreviu isso.”
Simone Weil (“A
Fonte Grega”)
Águas passadas, tempos idos, memória
perdida. Como é que isso pode ser real? Todos nós, se já não perdemos contacto
com o mundo, fazemos essa pergunta do bárbaro diante da mística pitagórica.
Mística, sim. Como viu Simone Weil, as relações matemáticas que explicavam o
mundo aos olhos da seita mais culta que o mundo conheceu, eram a verdade revelada.
Se nós somos reais e não seres de
fantasia, somos a prova de que o passado "não passou". Além disso
estamos tão perto de abandonar o tempo do "aqui e agora", o tempo
biológico e o tempo dos transportes terrestres e aéreos, para mudarmos, sem
armas nem bagagens, para o tempo real das transmissões electromagnéticas e da
velocidade da luz, num mundo em que não temos de estar presentes num tempo ou
num lugar específico, que o passado não só não passou como pode estar à nossa
frente...
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