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"Ela
tinha traçado uma linha entre o que se poderia chamar o seu impudor
profissional e o seu pudor privado, como uma médica ou uma assistente social;
era sensível como um esfolado a uma palavra mais pessoal, mas falava
impessoalmente do que quer que fosse (...)"
"O Homem
Sem Qualidades" ( Robert Musil)
Existe uma espécie de "entre parêntesis"
do nosso pensamento quando exercemos determinadas funções. Continuamos os
mesmos, mas procedemos como se obedecêssemos a um outro princípio. O princípio burocrático,
por exemplo. Conheci chefes inacessíveis, senão mesmo intratáveis, que, fora da
empresa, eram excelentes pessoas. A função tomava conta deles, a ponto de
ficarem irreconhecíveis. Quanto maior o poder, mais esse desfasamento é
visível. Não nos devemos deixar enganar pela aparente bonomia dos poderosos. Há
sempre um certo grau de desprezo que se pode esconder atrás da afabilidade. O
conde de Guermantes, em Proust, que parecia o mais altivo e orgulhoso dos dois,
não chegava à altura dos preconceitos e do sentimento de superioridade do seu
primo, o príncipe, cujos modos exteriores eram o mais democráticos possível.
O "parêntesis" pode
revestir-se de características esquizóides no caso do clandestino ou do
conspirador. São, na verdade, "compartimentos estanques".
O comportamento de Diotima podia
chocar o seu amigo aristocrata, Leinsdorf, pela sua "liberdade" e
pela "indulgência" com que falava das paixões humanas. Mas Diotima
não fazia mais do que mudar de registo, premindo o "shift" adequado.
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