“Podemos
agora responder à questão que levantava Cícero, quando escrevia:’ É difícil
explicar por que os objectos pelos quais a nossa sensibilidade é o mais
agradavelmente afectada e que, à primeira vista, exercem sobre ela a impressão
mais profunda, são igualmente aqueles
que, mais rapidamente, provocam uma espécie de desgosto e de saciedade que nos
afasta deles’. Resposta: porque a proximidade corporal impede de se ser
si-próprio, de negociar uma distância quando ela não existe, porque o corporal
que é invadido é muitas vezes aquele que engendra as paixões mais fortes, tanto
negativas como positivas.”
“Principia
Rhetorica” (Michel Meyer)
A fusão, ideal
wagneriano do amor, só pode durar o tempo dum elixir. Para existir, depois
disso, qualquer coisa de parecido com a felicidade ou o simples bem-estar, cada
um tem de regressar ao seu próprio ser, com um mínimo de distância. Essa
distância, claro, corre o risco, por sua vez, de ser invadida pelo mundo, o
nosso e o outro.
O que é que impedia
Cícero de compreender a situação? Ele conhecia, no entanto, a realidade das
paixões e a necessidade de lhes pôr o freio platónico. E o que é a justa medida
horaciana senão a consciência de que o mesmo objecto nos pode trazer benefício
ou miséria consoante a nossa atitude?
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