“A
nossa fabulosa aventura foi sempre sem sujeito como os gregos já sabiam. Mas
agora navegamos pela primeira vez e a sério no mar do nosso sublime, ou apenas
trivial e universal, anonimato.”
“Eduardo
Lourenço no prefácio a “Uma Viagem à Índia” de Gonçalo Tavares)
Os gregos sabiam que
os deuses tramaram Édipo ( Ele tudo fez para evitar a tragédia, apenas para
melhor cumprir a profecia). Isso não o “libertou” do seu destino, como o faria
a psicanálise reconhecendo a origem do trauma.
Quando se
acolhem o contexto social e as
circunstâncias psicológicas no tribunal, procede-se como se, de facto, não
existisse sujeito e a condenação, nessa medida, fosse injusta. Bloom, a
personagem da anti-epopeia de Gonçalo Tavares, “não está disposto a vazar os olhos por um pecado de que não é sujeito.”
(ibidem)
Ora, se a nossa
viagem à Índia não foi fruto da vontade de nenhum herói, se foi uma “gesta colectiva” como a
mitologia do Estado Novo a apresentou, o seu sujeito é Portugal.
Mas hoje, desfeita essa
mitologia, pode dizer-se que a viagem
não teve sujeito ou que o perdeu. E não há deuses para nos tramarem. Ou, como
diz Gonçalo Tavares,
“os deuses actuam
Como se não existissem,
E assim
Não existem, de facto, com extrema
eficácia.”
Isto é, somos
tramados à segunda potência.
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