domingo, 19 de junho de 2011

ESCREVER



“Segundo Barthes, no prefácio à ‘Vie de Rancé’, ‘a anamnese é uma operação exaltante e lancinante; esta paixão da memória só se sacia num acto que confira finalmente à recordação uma estabilidade própria da essência: escrever.’”


(Sarah Vadja in “Chateaubriand: o Enchanteur contra os Panfletários – uma estética do desgosto”)



A psicanálise recorre à anamnese para dar um contexto narrativo aos sintomas do neurótico. Se pudermos contar a nossa história, podemos seguir em frente, porque encontramos o sujeito da acção.

Barthes refere-se a uma paixão da memória que significa, no fundo, um desejo de salvação. Quando essa paixão se converte em escrita, é para salvar o passado da anulação e do esquecimento, o que não faz ainda o escritor. Para este, nesse sentido, tudo é passado e a vida confunde-se com a sua (re)produção. Mais do que a “estabilidade da essência” o que ele procura é o fantasma da ubiquidade e da acção ilimitada.

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