“Ninguém
é tão susceptível, nem mesmo uma mulher bonita que se levanta com uma borbulha
no nariz, quanto um autor ameaçado de sobreviver à sua reputação.”
“Le neveu de
Rameau” (Denis Diderot)
A consciência de que
perdemos o talento ou de que uma borbulha se apresenta antes de nós pode causar
mau humor a mais do que um Cyrano. Mas o herói de Rostand “pega o toiro pelos
cornos” e faz uma glosa em vários tons do seu nariz. Nenhuma mulher bonita
poderia fazer o mesmo sem se tornar pedante e sem renunciar à graça para
sempre, porque uma beleza tão dependente da opinião não merece o nome que tem.
Ora, no cinema, a
sobrevivência à reputação da beleza é uma questão de tempo, e eu não tenho
conhecimento de actores ou actrizes a quem isso dê mau humor. Ou conheço casos
extremos como o da Garbo que se recusou a lidar com o problema, exilando-se.
É que ao contrário da
beleza que se alimenta da memória dos outros, essas estrelas brilham sempre no
nosso ecrã, por isso as sobreviventes não envelhecem como nós. Têm o halo que
nos impede de ver numa velha carcaça o final da história.
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