Giovanni Girolamo Savoldo (1480-1548), nesta “Adoração dos Pastores” revela-se um verdadeiro precursor de Caravaggio, o pintor dos peregrinos de pés sujos e das meretrizes como modelo das suas virgens. Temos, claro, de deixar de lado o teatro do “chiaroscuro” ( porque nos quadros do sucessor “representa-se”, e a natureza não está lá), o relevo quase fotográfico dos corpos contra um fundo que corresponde, de facto, a uma ocultação do mundo.
Em Savoldo, não há “adoração” de reis, e os pastores debruçam-se do postigo, ociosamente, com uma curiosidade toda terrena. A cena que observam é o mais prosaica e quotidiana possível. Mas o estábulo e os animais (invisíveis) são o quadro dum nascimento que transcende as espécies. De tão natural, a cena torna-se misteriosa.
S. José, sem se envolver, parece meditar como um filósofo, perante as traquinices do recém-nascido. Apenas a Virgem está ali, com aquela posição das mãos, a lembrar que a cena é religiosa.
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