quinta-feira, 9 de junho de 2011

O MONSTRO SUSPENSO

(Sophia de Mello Breyner Andresen-1964)


"Mas por mais bela que seja cada coisa,
 Tem um monstro em si suspenso."

Sophia (Fundo do mar)


Suspenso do futuro? Do presente?

Não é o olhar que cria o monstro, como no célebre paradoxo de Shakespeare (o belo é horrível, e o horrível é belo). A morte tem tudo para ser esse monstro, e há  efémeras belezas.

Mas a poesia parece ir mais longe, como se dissesse, por exemplo, que a monstruosidade está no mesmo espaço da beleza, mas a outra altura.

E eu posso ver no "Tempo reencontrado" de Proust, o último volume do seu Magnus Opus, quando o narrador vê os efeitos do tempo nas criaturas do antigo salão dos Guermantes, um exemplo dos "monstros suspensos" e do tempo tornado espaço  contíguo.


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