“Já
Gregório o Grande tinha reconhecido que o hipócrita serve os interesses do
século porque, mesmo que não faça mais do que simular uma intenção recta, ele
realiza efectivamente a acção que esta intenção implica.”
(Benoît
Timmermans)
Apesar do papa pensar
assim sobre a hipocrisia, não deixou de remeter para o Índex o tratado de
Castiglione sobre a arte do parecer, pela qual se devia guiar o cortesão.
Mas a questão é bem
mais profunda do que o simples fingimento porque, na verdade, só não seriam “hipócritas”,
só não se esconderiam sob a máscara, os que resistissem com a fé dos crentes às
dúvidas que os pudessem assaltar, sobretudo quando se encontram em posições
que pressupõem determinadas “certezas”. Ou no caso extremo de Jean Meslier
(1664/1729), que foi padre durante quarenta anos nas Ardenas e que deixou, na
sua morte, um testamento contra todas as religiões e que Voltaire publicitou.
Gregório o Grande não
podia, como papa, advogar a hipocrisia, o que quer que pensasse da sua utilidade,
mas casos como o de Jean Meslier dão-lhe razão.
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