A propósito das discussões
e querelas diz Thaumasto, no “Pantragruel” de Rabelais, que são coisa demasiado
vil e por isso as deixa para “os marotos dos sofistas que não procuram a
verdade, mas a contradição e o debate.”
Os Sofistas fizeram
muito para enriquecer o nosso equipamento retórico. Dir-se-á: mas para que
serve isso se não nos leva à descoberta da verdade?
Poucos homens se
dedicam a essa descoberta, mas quase todos podem ser persuadidos a tomar como
verdade aquilo que outros descobriram. É por isso que a política é o reino da
retórica.
Nos final do anos
setenta, falava-se muito em mobilizar, dizia-se que as pessoas estavam “desmobilizadas”.
Os que acreditavam ficavam desapontados, sempre que se deparavam com a inércia
ou a incredulidade dos outros. A sua retórica estava gasta.
1 comentários:
De há uns anos já, e não serão poucos, que me aborrece esta maldição sempre projectada para trás, no caso contra os que na prática criaram a Àgora e foram os seus principais contribuintes: os sofistas. Contra a concepção sofista de que só o homem poderia ser, no mundo humano que é o mundo conhecido por homens, a medida de todas as coisas, houve quem se focasse ligeiramente acima e ligeiramente abaixo – como se houvesse necessariamente um mundo humano independente do homem ou um mundo não humano compreensível. Pode-se com a mesma bonomia dizer que o que o homem descobriu mais não era senão a sua função de espécie, de modo nenhum a verdade, não em nenhum sentido super-humano. Que a política é, hoje, o reino da pior retórica ninguém discute. Mas pode e deve discutir-se a razão te tal ocorrência contemporânea (que não é a dos sofistas, nem mesmo era a sentida, digamos, em 1970). Ora, no meu cepticismo, avalio a contemporaneidade exactamente às avessas: incapazes para perceber os sofistas, continuamos a apelar para extras inumanos e maldições de um deus único, no caso a economia, e perdemos de vista a política do homem.
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