segunda-feira, 6 de junho de 2011

A ÁRVORE DA VIDA

"A árvore da vida" (2011-Terence Malick)



O começo tem o seu quê de prédica. Mas depressa somos arrastados pelo turbilhão das imagens. Do macro ao micro, os mundos confundem-se e, milagrosamente, esse panteísmo não rompe o fio da história daquela família do Texas, nos anos cinquenta, com um pai que julga ter falhado a sua vocação para a música e, ao mesmo tempo, receia não saber transmitir o “manual da sobrevivência” aos três filhos. A morte dum deles é um trauma até ser compreendido como um novo ser, a presença no coração e, finalmente, na cena do deserto em que a distinção entre a vida e a morte se perde, e a mãe pode oferecer a Deus o filho “reencontrado”.

O meio privilegiado deste consolo filosófico é a perspectiva do tempo. Diante dos nossos olhos passam o Big Bang e as idades da terra. O episódio jurássico aparece num tempo circular sem a cronologia presente em Kubrick, na cena dos símios e do genial raccord da tíbia que se transforma em nave espacial. Passam as imagens da  moderna descida ao centro da vida. Entretanto, assistimos ao emergir da sexualidade em Jack, o filho mais velho (Freud está lá, mas numa volta longínqua da espiral) e ao amadurecimento do pai que agora sabe o que quer. Tudo sem soluções de continuidade e com referências cinéfilas subliminares. Um filme desmedido e irrepetível à volta da primeira ideia da religião: o indivíduo não é nada, os ramos e as folhas não se explicam por si sós.

1 comentários:

Anónimo disse...

E a música.
Um filme que quanto mais o relembro, mais me vai fazendo reflectir.
«Só há um modo de ser feliz:amar»
O filme é tão denso que perdura dentro de nós.
O início é absolutamente fantástico e inesquecível.

Maria Helena