sexta-feira, 10 de junho de 2011

DAVID E INGRES



Jean-Auguste Dominique Ingres (1780/1867)



“Quanto aos que mascaram, sob o olhar de Baudelaire, os vernizes, os drapeados, a pureza harmoniosa do gesto e da pose!... Ingres confessa tudo, em Dampierre, quando pinta na parede da galeria, para o duque de Luynes, a sua grande máquina de “L’Âge d’Or”. Descendendo de David e do seu neo-classicismo ‘realista-terrorista’, o pintor fomenta um sonho perigoso de humanidade perfeita, de humanidade reconciliada com a natureza, de ‘paraíso reencontrado’… Tudo coisas que Baudelaire não pode conceber, sabendo muito bem onde vão dar.”

(Pierre Emmanuel Prouvost d’Agostino, in “ O outro Baudelaire”)




Será esse prefixo (neo) que transforma o ideal de um Fídias ou de um Praxíteles em qualquer coisa de sinistro? Ou o Panteão, “arrecadação das glórias republicanas” (ibidem), numa corrupção da Acrópole?

O passado ou o futuro idealizados, quando descem das alturas do sonho para a fornalha onde se forja o presente, tornam-se em armas assassinas nas mãos de anões nibelungos. O ideal não pode fazer mais do que inspirar e, logo que se torna um molde, é apenas um túmulo vazio.

Ingres tem de ser salvo do anátema com que o poeta das “Flores do Mal”, ao mesmo tempo que se sentia atraído pela sua perfeição, o cobriu a ele e a David, o pintor que se vangloriava do regicídio.

Na fuga para a frente da pintura europeia, acossada pela novel arte fotográfica, Ingres é uma suspensão retrospectiva, o olhar de Orfeu antes de perder Eurídice nos infernos.

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