Jean-Auguste Dominique Ingres (1780/1867) |
“Quanto
aos que mascaram, sob o olhar de Baudelaire, os vernizes, os drapeados, a
pureza harmoniosa do gesto e da pose!... Ingres confessa tudo, em Dampierre,
quando pinta na parede da galeria, para o duque de Luynes, a sua grande máquina
de “L’Âge d’Or”. Descendendo de David e do seu neo-classicismo ‘realista-terrorista’,
o pintor fomenta um sonho perigoso de humanidade perfeita, de humanidade
reconciliada com a natureza, de ‘paraíso reencontrado’… Tudo coisas que
Baudelaire não pode conceber, sabendo muito bem onde vão dar.”
(Pierre
Emmanuel Prouvost d’Agostino, in “ O outro Baudelaire”)
Será esse prefixo
(neo) que transforma o ideal de um Fídias ou de um Praxíteles em qualquer coisa
de sinistro? Ou o Panteão, “arrecadação
das glórias republicanas” (ibidem), numa corrupção da Acrópole?
O passado ou o futuro
idealizados, quando descem das alturas do sonho para a fornalha onde se forja o
presente, tornam-se em armas assassinas nas mãos de anões nibelungos. O ideal
não pode fazer mais do que inspirar e, logo que se torna um molde, é apenas um
túmulo vazio.
Ingres tem de ser
salvo do anátema com que o poeta das “Flores do Mal”, ao mesmo tempo que se
sentia atraído pela sua perfeição, o cobriu a ele e a David, o pintor que se
vangloriava do regicídio.
Na fuga para a frente
da pintura europeia, acossada pela novel arte fotográfica, Ingres é uma
suspensão retrospectiva, o olhar de Orfeu antes de perder Eurídice nos
infernos.
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