“Se os Gregos não tinham ideia das liberdades, não
professavam menos que a cidade deve proceder pela via geral da lei, que se
impõe a todos, governados e governantes; como o cidadão moderno, o cidadão
antigo dispunha, aliás, de uma esfera de actividades livres e independentes do
Estado, e sobre certos pontos (justamente em matéria de impostos), a sua
liberdade ia bem para lá daquilo que o liberal mais decidido ousaria sonhar nos
nossos dias. A única diferença de princípio é que as liberdades modernas são
expressamente reconhecidas pela lei, enquanto que as liberdades antigas se
impunham por si próprias. Os Gregos tinham um direito, mas não uma teoria do
direito.”
“Le pain et le cirque” (Paul
Veyne)
Por que
haveriam os Gregos de ter as liberdades na lei e de desenvolver uma teoria do
direito? Eles não tiveram que se confrontar “contra
uma monarquia absoluta ou contra um Igreja”. O próprio duma democracia
artificial (como a do Iraque depois da intervenção americana) é não ter tido
raízes no terreno, nem um desenvolvimento adequado às circunstâncias.
Mas é um erro,
sem dúvida, pretender que o “enxerto” não se modifica em contacto com a cultura
a que é imposto. Assim se passou com as conquistas de Alexandre (não se pode
dizer que Alexandria seja uma cidade grega, nem no ambiente do “Quarteto” de
Durrell) e com o marxismo na Rússia ou na China.
As liberdades “espontâneas”
de que gozavam os cidadãos na Grécia correspondem a uma espécie de idade de
oiro. Como antes do pecado, não tinham ideia das liberdades, limitando-se a
vivê-las.
Nós, pelo
contrário, sabemos bem o que são (embora esqueçamos frequentemente a sua
importância), como são frágeis e como dependem das instituições. Enfim, como é
fácil tornarem-se uma mera ideia.
2 comentários:
Embora as ideias contenham a capacidade de "ressuscitar".
Uma ideia pode erguer-se do túmulo com um vigor e jovialidade semelhantes à novidade.
A geografia e a circunstância histórica é que pode variar, não?
Maria Helena
Como a semente depois de enterrada.
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