sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O CORPO DE OSÍRIS




“Redimir o passado e converter todo o “foi” num “Assim o quis” – isso seria o que eu chamo de redenção! Eu ensino-vos a querer, meus amigos – este é o nome do libertador e do que traz a alegria! Mas aprendei isto também: a própria vontade é ainda prisioneira. O querer liberta – mas qual é o nome daquilo que põe ainda a liberdade a ferros? “Foi”: este é o nome dos dentes rangentes da vontade e da sua miséria. Impotente contra aquilo que aconteceu, é um amargo observador de todo o passado.”

“Assim falou Zaratustra” (Friedrich Nitezsche)



Não podemos esquecer o passado porque ele se encontra reconstituído em nós como o corpo de Osíris. Deus não morreu, nem foi realmente esquecido, mesmo se todas as certidões de óbito disseram o contrário. Quereis melhor exemplo do que a genealogia do próprio homem? 

Freud acabou com o mito de que a criança que fomos se perdeu algures no Limbo da nossa memória. Nietzsche quer redimir o passado de Deus, reactualizando-o por uma heróica vontade. Susan Neiman (“Evil in Modern Thought”) diz que Nietzsche era claro quando dizia que a religião não pode simplesmente ser abandonada. “Não podemos libertar-nos do seu poder sem que nos livremos da necessidade que a criou.”

De facto, a seguir à Providência veio a História ( a História nos julgará) e o Progresso é hoje um deus a passar um mau bocado.

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