terça-feira, 12 de outubro de 2010

ESTRANGEIROS

Ludwig Wittgenstein (1889/1951)



“Por outras palavras, a perda de senso comum não é nem o vício nem a virtude dos ‘pensadores profissionais’ de Kant; acontece a toda a gente que por um momento reflecte em alguma coisa; dá-se apenas o caso que acontece com maior frequência aos pensadores profissionais. A esses chamamos filósofos, e a sua maneira de viver, será sempre a ‘vida de um estrangeiro’ (bios xenikos), como Aristóteles a chamou na sua ‘Política.’”

“A Vida do Espírito: Pensar” (Hannah Arendt)



É graças a coisas como conceitos que ganhamos consciência de que pensamos, e pensar é sempre pensar que pensamos. Se apenas utilizássemos a linguagem do senso comum, podíamos “concluir como o primeiro Wittgenstein” que “a linguagem é uma parte do nosso organismo”.

O contrário do estrangeiro é aquele que está em sua casa. Bernardo Soares, ao identificar a sua pátria com a sua língua, anexava muito mais do que o senso comum. Isso permitiu-lhe pensar continuamente, como o mais lúcido dos poetas, sem “sair de casa”. Estrangeiros eram todos os outros, os que não viviam na língua portuguesa.

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