"Parábola dos Cegos" (Bruegel) |
“A propaganda totalitária desenvolve-se neste escapar da realidade para a ficção, da coincidência para a consistência”.
(Hannah Arendt)
A incapacidade de abrir o espírito à coincidência é muito comum.
Na vida sentimental, quando se teme, os sinais vêm ao nosso encontro e fazem o drama, a partir da cristalização do sentido, como se o amor também dependesse da temperatura.
Mas é na política que esse delírio interpretativo reina como combustível das várias máquinas de opinião. A raça, o partido, a religião só permitem aos tolos a análise em termos de coincidência. “Já são coincidências a mais” é a expressão que faz de todos nós impenitentes empiristas, proporcionando a inteligibilidade necessária para navegar à vista.
Apetece convocar a parábola dos cegos, os que menos vêem conduzindo os outros. Mas não nos podemos esquecer que a partir de certo grau de intoxicação o delírio se torna realidade.
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