"O Grande Timoneiro nos guia. Estaline ao leme", cartaz soviético, 1937 |
“(…) todas as marinhas militares do mundo conheceram bem este mistério: a política dos oficiais com respeito aos marinheiros em folga parece-se com a política romana em matéria de Circo. Uma disciplina de ferro reina a bordo, mas, uma vez em terra, os homens fazem tudo o que querem; os marinheiros, ao mesmo tempo que são capazes de se amotinar, são apolíticos: uma vez a bordo, são recapturados pela autoridade da sociedade global e pelos colectivos.”
“Le Pain et le Cirque” (Paul Veyne)
Platão, que gostava de se servir da metáfora do piloto a propósito do governo de um país, parece não ter dado o devido valor ao feriado dos marinheiros em terra, quando “fazem tudo o que querem”. Não é que não possam ser confinados a bordo por castigo ou avaria do barco, mas, fora isso, uma certa anarquia no terreno firme faz parte do regime disciplinar e da sabedoria do piloto.
De facto, o governo no mar reduz a questão política ao essencial. E talvez os marinheiros não sejam mais apolíticos, por muito amotináveis que possam ser, do que a população de um estado. Não é o Carnaval ou o Circo que tornam os povos apolíticos. É pelo menos a tese de Paul Veyne: “o governo (romano) não concedia o circo ao povo para o despolitizar; mas com toda a certeza, tê-lo-ia politizado contra si se lhe tivesse recusado o circo.”
No fundo, é a tão incompreendida lei do menor esforço. O povo não pretende disputar aos “especialistas” o encargo de governar, mesmo se isso se possa revelar o mais pesado dos impostos.
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