sexta-feira, 15 de outubro de 2010

UMA TEORIA DOS SEXOS

Simposium


“Cada um de nós é então como uma senha de hospitalidade (*), uma vez que fomos cortados como solhas e que, de um, nos tornámos dois: assim, cada um procura a sua metade. Todos os homens que são uma metade deste composto de dois sexos que então se chamava andrógino gostam de mulheres, e é daí que vem a maior parte dos homens adúlteros (…)”

“O Banquete” (Platão)



Platão explica a seguir que as tríbades vêm da metade só mulher e os que preferem os homens da metade só homem. Era costume acusarem esta última espécie de falta de pudor, mas “é um erro: não é por impudência, mas por firmeza, coragem e virilidade que agem assim, ligando-se aos seus semelhantes, e eis uma prova convincente: é que quando atingem o seu completo desenvolvimento, os rapazes desta natureza são os únicos que se consagram ao governo dos Estados.”
Nesta química platónica dos sexos existe um curioso parti pris. Não me refiro à suposta vocação dos que preferem os homens para os cargos públicos, ideia que parece sugerir uma pletora de voluntários, dados os costumes da época, mas à propensão para o adultério do composto dos dois sexos, o chamado andrógino. O princípio é o de que o elemento puro (o género) prefere o seu igual, enquanto a mistura se inclina para o feminino, mas com uma tal violência que não se contém nos limites da lei ou das conveniências. Ou seja, o princípio feminino é sempre o mais forte.

(*)Trata-se de um ossículo partido a meio. O anfitrião guardava uma parte e o seu hóspede a outra. Isso permitia-lhes, mais tarde, a eles ou à sua descendência, renovar os laços de hospitalidade.

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