“O que os amanuenses tinham que trabalhar no seu (*) tempo! Devias ter visto como eles arranhavam o papel aqui até à meia-noite; pois quê? os aquecedores apagavam-se e ninguém dava por nada. Era porque a guilhotina estava lá! Agora só lhes chamam à atenção quando chegam tarde!”
“La Comédie Humaine: Les Employés” (Balzac)
A ideia balzaquiana da burocracia não envelheceu muito, e está resumida no lema de uma das personagens: “- Quanto mais trabalhares, mais te fazem trabalhar!”.
Faz sentido que uma organização centralizada, à falta de motivação e das necessárias articulações, se baseie, muito racionalmente, nos números e nos gráficos (e não no mérito ou no esforço individual).
A burocracia segue, no fim de contas, o método militar e é imbatível em certas circunstâncias. O que seria uma grande empresa sem lhe ceder uma boa parte da sua organização?
Como é natural, só o medo é suficientemente forte para substituir a motivação quando ela não existe. O medo das revoluções e da guilhotina tornou, por um tempo, a burocracia mais militar do que nunca.
O problema da burocracia é que facilmente se transforma num fim em si mesma, pela sua própria racionalidade. Assim, o desperdício ou a completa inutilidade podem perdurar ad aeternum, ou até à bancarrota, porque o rigor do seu método e até a ética profissional são perfeitamente compatíveis com a falta de visão.
(*) No tempo de Jean-Baptiste Robert Lindet, que foi membro da Convenção e do Comité de Salvação Pública durante a Revolução Francesa.
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