Saint-Just |
“Mas o mais estranho era o seu andar, duma rigidez
automática que era só sua. A rigidez de Robespierre não era nada em comparação.
Devia-se ela a uma singularidade física, ao seu excessivo orgulho, a uma
dignidade calculada? Pouco importa. Ela intimidava mais do que parecia
ridícula. Sentia-se que um ser de tal modo inflexível de movimentos o devia ser
também de coração. Assim, quando no seu discurso, passando do rei à Gironda e
deixando ali Luís XVI, ele se virou como uma só peça para a direita, e dirigiu
sobre ela, com a palavra, a sua pessoa inteira, o seu duro e assassino olhar,
não houve ninguém que não sentisse o frio do aço.”
“Histoire de la Révolution”
(Jules Michelet)
Do ridículo ao
sublime vai apenas um passo. Numa assembleia democrática, a rigidez de
Saint-Just ter-lhe ia valido o epíteto de “múmia
paralítica”. Mas é evidente que o retrato pintado por MIchelet tem um outro
ambiente, onde as palavras têm a eficácia e a velocidade de execução das
máquinas.
O poder aqui
não é político. Não se trata de governar nem de nenhuma espécie de acção comum.
É a mecânica sujeitando os homens, como nunca se tinha visto até ali. Que
sentido de humor não seria preciso para se rir da Razão endeusada? No entanto,
ela não valia mais do que qualquer fanatismo.
É verdade que
Chaplin, no “Grande Ditador”, fez troça de Hitler, mas não arriscava a vida ao
fazê-lo.
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