“Sob o aspecto teórico, não nos aproximamos
minimamente da convicção da existência de Deus, da existência do soberano bem e
da perspectiva de uma vida futura pelos mais estrénuos esforços da razão, pois
não nos é dado conhecimento algum da natureza dos objectos supra-sensíveis. Sob
o aspecto prático, porém, nós próprios formamos estes objectos, da mesma
maneira que julgamos que as nossas ideias são favoráveis ao fim último que, por
ser moralmente necessário, pode muito bem suscitar a ilusão de tomar por conhecimento
da existência do objecto adequada a esta forma o que, do ponto de vista
subjectivo, a saber, para o uso da liberdade do homem, tem realidade, porque se
exibiu em acções da experiência que são conformes às leis de tal liberdade.”
“Os Progressos da Metafísica”
(Immanuel Kant)
Uma estrela
que só pode ser objecto do nosso cálculo (como, por um tempo, o foi o planeta Neptuno) e que os nossos sentidos, por mais potente que seja o
telescópio, não alcançam, não é um objecto supra-sensível no sentido kantiano.
Tal estrela é como a projecção dum sistema físico que podemos verificar.
Kant não diz
que aqueles objectos são apenas ideias e que só existem pela razão, além disso,
pressupõe uma harmonia entre o universo e a nossa razão, pelo que a sua
filosofia é ainda teológica.
Pelo contrário,
no outro díptico, o da razão prática, Kant toma o partido de voltar a colocar a
razão apeada pela primeira Crítica no seu pedestal, como pressuposto da
liberdade humana. Aqui não importam as certezas, mas as realidades, sejam elas
as da ilusão humana.
Deus regressa,
não sob a forma de verdade absoluta, mas de experiência subjectiva. E sob essa
forma, a sua realidade já pode ser objecto duma convicção que não se distingue
da fé.
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