sexta-feira, 22 de outubro de 2010

VULGARIZAR

Elias Canetti


“O que mais aprecio num verdadeiro escritor é aquilo que omite por orgulho.”

“Aforismos” (Elias Canetti)



Simone Weil considerava a palavra vulgarização tão feia como a coisa que designa. Não é possível traduzir sem trair, como é costume dizer-se, mas aquele que vulgariza um belo texto faz pior do que trair, pois o degrada até a um nível que considera ser o daquele que o lê. E o que é que fica depois de lermos um resumo infligido, por exemplo, à “Guerra e Paz”? Apenas a vaidade de ter “lido” um clássico. Nada do que é exaltante e inspirado no romance de Tolstoi será assim percebido. É como se nos condenassem a ter os órgãos de um ser inferior, a viver numa sub-humanidade.

Explicar, quando um esforço da inteligência ou um “golpe de asa” nos elevariam aos céus é inculcar o mau gosto e a mediocridade. E vulgarizar não é outra coisa.

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