“Os paradoxos estóicos (o Sábio é feliz sob a tortura) devem precisamente o seu carácter paradoxal a esta estranha posição do problema: os estóicos, continuando a pensar nos quadros implícitos da sua época, colocam a questão moral no quadro do problema da felicidade. Um Grego gostava de pensar que uma sociedade justa e uma sociedade feliz são a mesma coisa. Ora esta equação pode interpretar-se assim: fabriquemos uma sociedade que seja só justiça; como é que esta sociedade não há-de ter a reputação de ser também feliz? A confusão do problema eudemónico e do problema ético pode levar a sacrificar assim a felicidade à justiça.”
“Le Pain et le Cirque” (Paul Veyne
Talvez se explique assim o sacrifício das gerações presentes às futuras na construção da sociedade ideal, como pensaram os revolucionários de 1917.
Porque o sistema de justiça formal, o das “Leis” de Platão, é um sistema autoritário que legisla num quadro em que os indivíduos têm de sacrificar os seus interesses aos da colectividade.
A sociedade não pode, de facto, deixar de exercer alguma violência sobre o indivíduo e o seu egoísmo natural, no próprio interesse desse egoísmo (Carnéades). Mas, não reconhecendo os homens tais como são e não como a doutrina pretende que sejam, a autoridade passa a ser um reflexo automático de um Estado que se tornou no fim de si mesmo.
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