segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ESCONDER E PROTEGER

Hannah Arendt e o marido



“No mundo público, comum a todos, as pessoas contam, e também a obra, quer dizer, a obra das nossas mãos, através da qual cada um de nós contribui para o nosso mundo comum, mas aí a vida, enquanto vida, não conta: o mundo não pode interessar-se por ela e ela deve esconder-se e proteger-se do mundo.”

“La crise de la culture”  (Hannah Arendt)



Isto é ainda mais verdade para as crianças, que têm de crescer para poderem enfrentar o mundo. Arendt apresenta como exemplo duma invasão desse “santuário” o caso dos filhos de pessoas célebres que não chegam a desenvolver-se e “acabam mal”, por demasiada exposição pública.

Mas o facto da tecnologia ter atravessado as quatro paredes dentro das quais as famílias exerciam a sua função tradicional de “esconder e proteger” a vida das crianças, mudou completamente a situação. As crianças são, assim, cada vez mais cedo “obrigadas a expor-se à luz da existência pública”.

A privacidade é muito mais do que uma questão de pudor ou de um direito a não sermos importunados. Não só a criança precisa de amadurecer, como os nossos próprios pensamentos têm necessidade também dum ambiente retirado. De facto, as novas ideias morrem ou não chegam a crescer, se tiverem demasiada exposição. Mas um adulto pode entrar no seu “poço de silêncio” no meio da multidão. A criança não.

0 comentários: