“No mundo público, comum a todos, as pessoas contam, e também a obra, quer dizer, a obra das nossas mãos, através da qual cada um de nós contribui para o nosso mundo comum, mas aí a vida, enquanto vida, não conta: o mundo não pode interessar-se por ela e ela deve esconder-se e proteger-se do mundo.”
“La crise de la culture” (Hannah Arendt)
Isto é ainda mais verdade para as crianças, que têm de crescer para poderem enfrentar o mundo. Arendt apresenta como exemplo duma invasão desse “santuário” o caso dos filhos de pessoas célebres que não chegam a desenvolver-se e “acabam mal”, por demasiada exposição pública.
Mas o facto da tecnologia ter atravessado as quatro paredes dentro das quais as famílias exerciam a sua função tradicional de “esconder e proteger” a vida das crianças, mudou completamente a situação. As crianças são, assim, cada vez mais cedo “obrigadas a expor-se à luz da existência pública”.
A privacidade é muito mais do que uma questão de pudor ou de um direito a não sermos importunados. Não só a criança precisa de amadurecer, como os nossos próprios pensamentos têm necessidade também dum ambiente retirado. De facto, as novas ideias morrem ou não chegam a crescer, se tiverem demasiada exposição. Mas um adulto pode entrar no seu “poço de silêncio” no meio da multidão. A criança não.
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